Além de todas as mudanças já anunciadas como consequência da recente experiência que afetou os negócios com a necessidade do isolamento social, a mudança de comportamento para a autogestão é uma das mais preocupantes.
Em 2012, uma estimativa apontava que dez milhões de pessoas no Brasil já estariam trabalhando à distância, pelo menos uma vez por semana, e, no mundo, esse número chegaria a 173 milhões nos anos seguintes; ou seja, o home office não é uma situação decorrente dos recentes acontecimentos que exigiram o distanciamento social, daí que a capacidade de autogerir é cada dia mais importante.
A tecnologia avança com rapidez, os negócios se adaptam também com certa rapidez – foi o que tiveram de fazer nos dois últimos anos. Mas o comportamento, esse não muda tão rapidamente assim, via de regra – a menos que a pessoa se conheça tão bem a ponto de identificar, em seu conjunto de competências, com quais delas pode contar para promover as mudanças que necessita.
O Fórum Econômico Mundial divulgou que até 2025, 85 milhões de empregos poderão ser substituídos por uma mudança na divisão do trabalho entre humanos e máquinas. Porém, deverão surgir 97 milhões de novos empregos “mais adequados à nova divisão de trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos”.
O que aconteceu foi que os trabalhadores tiveram de transformar-se em chefes de si mesmos. Quem não estava em posição de liderança passou a ser responsável não apenas por gerenciar suas metas, mas também por estabelecer metas, criar estratégias para atingir objetivos, redefinindo o que antes era mais um papel reativo; ou seja, tornando-se autogestor.
A capacidade de solução de problemas e o pensamento crítico foram apontados, no Fórum Econômico Mundial, como competências essenciais e que os empregadores entendem que crescerão em importância nos próximos anos. Mas, o Fórum alerta que “elas já têm sido consistentes desde o primeiro relatório em 2016”. A, agora, além das duas citadas, passaram a ter mais relevância também as habilidades de autogestão – aprendizagem ativa, resistência, tolerância ao estresse e flexibilidade.
Alguns estudos apontam que é preciso trabalhar por dois meses para mudar um comportamento. É famoso estudo do cirurgião Maxwell Masltz que, nos anos 1950, observou que, após uma cirurgia plástica, um paciente levava 20 dias para se acostumar com a nova fisionomia, prazo que ele passou a considerar como referência para que ele mesmo adotasse um novo hábito, concluindo que levava o mesmo tempo para isso. Há outra experiência da estudiosa de psicologia da saúde, na University College London, Phillippa Lally, que concluiu que o ser humano precisa de dois meses para tornar automático um novo comportamento. O estudo trabalhou com 96 pessoas que elegeram um novo comportamento para que ele se tornasse hábito – vale explicar que os pesquisados definiram hábitos simples, como correr por 15 minutos diários, por exemplo.
Estipular um prazo para tornar automático um novo comportamento é coisa para especialistas, mas o certo é que é possível promover mudanças para o autodesenvolvimento. Os estudos da psicóloga apontaram que uma mudança comportamental requer também mudanças físicas no cérebro e que a repetição da ação trabalha no sentido de automatizar a mudança comportamental.
Outra informação que os especialistas em recursos humanos sabem e lidam com isso cotidianamente é que o autoconhecimento é mais que uma informação; é um recurso capaz de auxiliar no planejamento de uma carreira profissional. Já foi dito que a empresa detém o emprego e a decisão sobre ele, mas o profissional é o único que controla e decide sobre sua carreira. Assim, é essencial que o profissional se conheça para que possa planejar e promover o autodesenvolvimento.
Tornar-se autogestor sempre foi importante, mas é, muito mais agora, uma necessidade da qual não se pode mais abrir mão. Desta forma, o autoconhecimento ajuda o profissional a saber que competências ele domina para promover as mudanças necessárias.
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