Há exatamente um mês e cinco dias que não uso este espaço. Certamente, não foi por falta de assunto. Nas últimas cinco semanas ocorreram fatos odiosos e hediondos em nosso país que causaram na população uma indignação efêmera e, simplesmente, caíram no esquecimento.
Alguém aqui se lembra da juíza de Santa Catarina, Joana Zimmer, que, ao julgar o caso de uma menina de 11 anos grávida por estupro, não permitiu o aborto, garantido pela legislação? Ou da prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, que fez do MEC um balcão de negócios?
O leitor deve se lembrar que a ex-atriz mirim Klara Castanho revelou ter sido vítima de estupro depois que Matheus Baldi, Leo Dias e Antônia Fontenelle praticamente revelaram o caso, provocando diversos ataques de ódio contra a Klara.
Também foi nesses 35 dias que Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, pediu demissão após ter sido denunciado por assédio sexual. As vítimas disseram que Guimarães costumava dizer coisas como: “vou te rasgar”, “vai sangrar”, “e se o presidente quiser transar com você?”.
Mais fresco na memória dos brasileiros está o assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, morto a tiros em sua própria festa de aniversário, cuja temática era o ex-presidente Lula. O assassino, que sequer era convidado de Arruda, havia gritado antes do crime: “Aqui é Bolsonaro”.
Houve ainda a fatídica reunião de Bolsonaro com embaixadores para desacreditar o sistema eleitoral. Os sigilos centenários impostos para o acesso ao Palácio do Planalto de filhos do presidente, lobistas de armas e advogado do presidente. A aprovação da PEC Kamikaze, que violou princípios de integridade eleitoral e do processo legislativo. O desvio de R$ 1,3 milhão na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), estatal ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional e comandada pelo Centrão. E o pedido da Procuradoria-Geral da República de arquivamento das apurações contra Bolsonaro derivadas da CPI da Covid.
Tudo isso em apenas 35 dias, deixando claro que a incivilidade está sendo banalizada a toque de caixa. Censura, tortura e fissura política têm se tornado elementos do cotidiano. A violência tem sido potencializada e o povo assiste tudo sem reagir. Isto posto, a pergunta que não se cala é: como foi que deixamos chegar a este ponto?
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