Seria cômico, se não fosse trágico, mas Bolsonaro e seus ministros dariam ótimos personagens para programas de humor, sobretudo para a “Escolinha do professor Raimundo”. Chico Anysio nem teria o trabalho de escrever o roteiro do programa, poderia deixar o pessoal improvisar. De quebra, ganharia ainda cenas que renderiam ótimos spin-offs.
A mais recente, certamente, seria baseada no que aconteceu agora em março. Em reunião com John Kerry, enviado especial para o clima do governo Joe Biden, e seus auxiliares, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou convencer o governo americano de que o Brasil é digno de confiança para receber recursos financeiros destinados à preservação da Amazônia.
Excelente argumentador, Salles embasou seu fundamento em uma única imagem. O ministro apresentou um slide no qual havia a foto de um cachorrinho sentado, abanando o rabo diante de uma máquina de frango assado que exibia a seguinte frase: “Payment expectation (expectativa de pagamento, em português)”.
Sim, essa foi a estratégia que o ministro de Bolsonaro lançou mão para tentar convencer os americanos a dar um cheque em branco - que deve ser destinado à preservação do meio ambiente - a um governo que pretende “passar a boiada” em relação às “reformas infralegais de desregulamentação”, conforme afirmou o próprio Salles na fatídica reunião de 22 de abril de 2020.
Decerto o ministro precisou explicar alguns embaraços de sua gestão, como o atrito com a Polícia Federal por causa da apreensão recorde de madeiras no Pará, na primeira semana de abril - a operação apreendeu 131,1 mil m³ de toras, volume suficiente para a construção de 2.620 casas populares -; e o desmonte de órgãos de fiscalização ambiental, como o ICMBio e o Ibama. Entretanto, foi a imagem do cachorrinho abanando o rabo que causou maior embaralhamento na cabeça dos membros da equipe de Biden.
Os americanos, obviamente, não entenderam bulhufas da imagem apresentada no slide e tiveram que pedir explicações ao titular do Meio Ambiente. Não há registro, no entanto, de como Salles esclareceu e contextualizou aquela foto sem parecer um idiota. É bem provável, entretanto, que o ministro tenha levado mais tempo nessa explicação do que para justificar os erros de sua gestão.
Somente depois de muito tempo a equipe do governo Biden entendeu do que se tratava a foto do cachorrinho. É compreensível, afinal, eles não têm o costume de ver vira-latas nova-iorquinos ou washingtonianos abanando o rabo tão descaradamente na frente de aportes financeiros vindos do exterior.
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