O assassinato do menino Henry, 4 anos, no Rio de Janeiro, comoveu o país. Conforme indicam as investigações, o garoto foi espancado até a morte pelo padrasto, o vereador carioca Jairinho (expulso do Solidariedade). Casos semelhantes de crimes contra crianças não são atípicos no Brasil. Em 6 de janeiro, por exemplo, Kaíke Júnior Moreira da Silva, de 12 anos, foi morto com uma facada nas costas por uma mulher de 39 anos, em Rubim, município mineiro com pouco mais de dez mil habitantes na região do Vale do Jequitinhonha. O motivo do assassinato: uma dívida de R$ 1.
Era uma tarde de quarta-feira, quando Kaíke, como de costume, saiu de casa para vender salgados. O dinheiro das vendas complementava a renda de casa - há alguns anos, a família recebe doação de cestas básicas da prefeitura e acompanhamento do Serviço de Assistência Social.
Depois de ter percorrido alguns quilômetros e vendido alguns salgados, Kaíke encontrou duas crianças que deviam ter a sua idade. Elas pediram dois pastéis e, na hora de pagar, faltou R$ 1. A discussão começou como um bate-boca e, aos poucos, foi ficando mais acalorada.
A mãe das crianças que brigavam com Kaíke estava em casa. Ao ouvir a gritaria, foi até os filhos, separou os meninos e perguntou o que estava acontecendo. Ao compreender o que se passava, pediu desculpas a Kaíke e disse que só poderia pagar depois de receber o salário.
O garoto começou, então, a esbravejar palavras, que, aos ouvidos da mulher, soaram como ameaças a um dos filhos. Os meninos voltaram a se atracar num empurra-empurra, gritando impropérios um contra o outro.
Nesse ínterim, a mulher correu para dentro de casa, foi até a cozinha, pegou uma faca e voltou para o local da briga. A desavença, contudo, já havia terminado. Kaíke havia dado às costas para seu adversário, no intuito de retomar suas vendas.
Deu poucos passos até sentir uma fisgada no ombro. Olhou para trás e viu a mulher segurando uma faca ensanguentada. Compreendeu o significado daquilo e tentou correr, gritando por socorro. Seu corpo, contudo, não conseguiu sequer dar quatro passos. Caiu e ficou no chão agonizando.
Não demorou muito, portanto, para que a polícia chegasse ao local e levasse o menino ainda com vida para o hospital público da cidade. A mulher, por sua vez, foi para casa com os filhos, trancou-se no quarto das crianças e esperou a polícia. Sob resistência, foi levada para a delegacia e, no momento em que alegava ter problemas psicológicos, Kaíke morria no hospital.
A história de Kaíke seguiu as águas do rio Jequitinhonha e chegou ao conhecimento das mais diversas regiões do Brasil, no entanto, desaguou-se no esquecimento, assim como tantas outras, como a de Miguel Otávio Santana da Silva - que aos cinco anos caiu do 9º andar de um prédio de luxo em Recife por negligência da mulher que tomava conta dele -, ou então de Agatha Félix, Kauan Peixoto, Kauan Rosário, Kauê Ribeiro e Jenifer Cilene - todos vítimas precoce da eterna guerra entre policiais e traficantes no Rio de Janeiro.
Dado o histórico do Brasil, o caso Henry tende a seguir para o mesmo desfecho. Contudo, enquanto tiver quem honre, respeite e fale de sua história, ele permanecerá vivo por um tempo ainda maior, assim como as crianças citadas acima.
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