O livro Balões, vida e tempo de Guignard: novos caminhos para as artes em Minas e no Brasil, recém-lançado pelo jornalista e pesquisador João Perdigão, evidenciou uma curiosa relação entre as obras do pintor brasileiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) com a literatura. Amigo de importantes nomes do mundo das letras - como Mário de Andrade, Rubem Braga, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Carlos Drummond de Andrade -, ele era conhecido como o “pintor dos poetas”. Ao longo de sua trajetória, ilustrou livros relevantes, como “Marília de Dirceu”, do inconfidente mineiro Tomaz Antônio Gonzaga, e assinou a arte de "Anunciação e Encontro de Mira-Celi", de Antônio Carlos Secchin e Jorge de Lima.
Na história da arte, entretanto, não foi somente Guignard que manteve uma relação profunda com o mundo das letras. O renascentista Sandro Botticelli, por exemplo, ilustrou “A divina comédia”, de Dante Alighieri, em 1485. Frank Dicksee, britânico da Era Vitoriana, por sua vez, retratou o amor dos personagens Romeu e Julieta, de Shakespeare. Já as obras barrocas, sobretudo as de Caravaggio e de Peter Paul Rubens, em sua maioria, estampam os acontecimentos registrados nos textos sagrados do novo testamento.
Na música, Richard Wagner transformou algumas das histórias da mitologia nórdica na ópera “O anel dos Nibelungos" e ainda adaptou o romance medieval “Tristão e Isolda” para uma ópera homônima. A banda canadense Rush, fez uma homenagem a Mark Twain com o single “Tom Sawyer”. Raul Seixas e Oscar Rasmussen, por sua vez, inspiraram-se no livro “Por quem os sinos dobram”, de Ernest Hemingway, para compor uma canção de mesmo nome. E a banda Legião Urbana fez algo parecido com “As flores do mal”, de Charles Baudelaire. Já o cearense Fagner resolveu transformar em música o poema “Cantiga para não morrer”, de Ferreira Gullar.
Nas artes plásticas, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, apresentou enxertos dos evangelhos por meio de suas imagens. Auguste Rodin, por sua vez, homenageou o escritor francês Victor Hugo, esculpindo para ele um busto. Já escritores como Roberto Drummond, Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Nelson Rodrigues e Carlos Drummond de Andrade também foram homenageados, ganhando monumentos em sua memória país afora.
Se ainda forem acrescentados aqui os romances adaptados para o cinema e televisão, a lista não terá fim, mostrando que a literatura, além de aguçar a sensibilidade e provocar a reflexão de problemas profundos da nossa existência, serve como um elo entre os diversos segmentos artísticos.
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