Durante toda a pandemia, acompanhei franqueadoras em suas dificuldades de adequação à retração do mercado. Foram meses em que redes que tinham operações exclusivamente em shoppings ou nos segmentos mais afetados pela crise debruçaram-se em buscar soluções para os problemas advindos da situação caótica mundial. E eles não foram poucos...
O primeiro momento foi o de lidar com lojas fechadas pelas medidas governamentais e todas as questões que isso envolvia. Mudanças trabalhistas, administração de estoques – muitos deles perecíveis – , a necessidade de acessar as lojas, certas vezes impossibilitada por medidas restritivas, e os primeiros casos de infecção por coronavírus dentro das redes exigiram um grande esforço dos gestores.
Paralelamente, veio a urgência de criar novos canais de vendas e distribuição. Quem agiu rapidamente conseguiu minimizar os prejuízos, ainda que eles não fossem pequenos. E as franqueadoras criaram diversas modalidades de ajuda às unidades franqueadas, que foram do adiamento do pagamento dos royalties à isenção da taxa de publicidade.
Com o passar dos meses, houve marcas que se adequaram à nova realidade, algumas até faturando no mesmo patamar dos meses anteriores à pandemia. Outras, porém, fecharam unidades franqueadas e ainda amargam o pior momento do varejo mundial. E, para todas, fica aquela sensação de que o franqueador deveria ter feito mais, como se houvesse a quem responsabilizar neste momento.
Por tudo o que acompanho, muitas redes passam por essa situação: os franqueados entendem que a pandemia não é culpa de ninguém, mas desejam, por outro lado, que a franqueadora faça mais, dando origem ou aumentando a insatisfação com o negócio.
Esse é um ônus dos sistemas de franquia, porque não se sabe exatamente onde fica a linha que divide o que é responsabilidade de um e do outro; há, muitas vezes, uma zona cinzenta de responsabilidades.
Mas, neste momento tão crítico, o grande desafio é vislumbrar, quase que num exercício de previsão mística, quando isso tudo vai passar e como passar por tudo isso; parte disso resvala para o exercício da autorresponsabilidade, porque, como é óbvio, a pandemia não é culpa de ninguém, portanto, agir como se fosse, esperando um salvador, pode resultar em absolutamente nada.
Porém, quando falamos em rede, sabemos que o desempenho de um afeta o sucesso do outro. Assim sendo, a empresa franqueadora necessita da receita dos royalties para alavancar a inovação e oferecer suporte. Portanto, foi de todo interesse das franqueadoras fazer tudo o que estava ao alcance delas para preservar a marca e suas unidades franqueadas. E, se não é possível manter a isenção deste pagamento, por exemplo, é porque não existe rede franqueada sem franqueadora – e, como eu disse, a renda dos royalties alimenta essa estrutura.
Acredito, além disso, que muitas das unidades franqueadas que foram fechadas na pandemia já enfrentavam problemas anteriores. Aliás, essa é uma excelente reflexão para as marcas: as unidades franqueadas que fecharam o fizeram por causa da pandemia ou porque realmente passavam por dificuldades anteriores? Houve falta de suporte na pandemia ou também antes desse período? O franqueado foi corretamente selecionado ou tinha um perfil inadequado, o que culminou no mau desempenho da unidade franqueada? O ponto era bom antes da pandemia e só piorou com a retração do mercado ou foi aprovado às pressas?
Por fim, penso que sempre vale aquela máxima de que o lugar do outro me parece mais confortável – até que eu sinta onde o sapato dele aperta o pé.
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