Apesar de atuar na área de consultoria em segurança privada e corporativa, como analista criminal por geoprocessamento, periodicamente tenho que avaliar os índices de criminalidade, seja de um país, um Estado ou um município, e assim entender as causas e efeitos desses crimes, para poder desenvolver estratégias de minimização dos riscos. Não existe solução mágica em segurança se não houver um bom diagnóstico.
Apesar de ser um delito que não está no rol daqueles que para mim (profissionalmente falando) são importantes, existe um crime monstruoso que me chama muito a atenção, que é o estupro de vulnerável. E me chama a atenção justamente por ser um crime que desafia a sociedade em como achar soluções para prevenirmos tal ato hediondo.
Se compararmos o primeiro quadrimestre de 2020 com o primeiro quadrimestre de 2021, em Campinas, observamos um crescimento de 46% nas ocorrências registradas desse crime, passando de 37 para 54 casos.
Depois de analisar os números de forma ampla nos últimos anos, temos a certeza de que 2021 preocupa, principalmente para as vítimas desse crime. E pior: continuamos a “enxugar gelo”, pois as polícias infelizmente não têm muito o que fazer além de prender e punir os responsáveis. Mas por ser um crime que na sua maioria ocorre dentro de casa, o trabalho preventivo da polícia fica restrito, restando para as instituições apenas executar ações de acolhimento e apoio para quem já se tornou vítima.
Existe a necessidade de se criar formas de prevenção para diminuir esse tipo de crime. O caminho é a informação. A criança e o adolescente (os mais atingidos), têm que estar muito bem orientados; eles precisam saber que “ninguém vai matar a mãe” de ninguém se eles denunciarem ou se recusarem a aceitar as práticas utilizadas por esses criminosos.
As instituições responsáveis precisam criar estratégias “preventivas”; têm que estar presentes nas escolas de maneira intensa para tratar desse assunto de forma técnica através de psicólogos, assistentes sociais e tantos outros profissionais capacitados num trabalho de orientação e prevenção aos abusos.
Pra finalizar; esses números apresentados ainda no início deste artigo ainda não são a pior notícia. A pior de todas as notícias é saber que nesse instante existem muitas crianças sendo abusadas caladas - e ainda não fazem parte dessa triste estatística.
* Adalberto Santos é especialista em segurança e diretor superintendente da Sigmacon. É consultor, palestrante, analista em segurança empresarial e criminal. Possui pós-graduação de processos empresariais em qualidade, MBA em administração e diversos títulos internacionais na área de segurança.
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