Março Amarelo é o nome da campanha que alerta as mulheres para a endometriose, uma doença que causa dor pélvica, muitas vezes incapacitante, e pode levar à infertilidade.
Trata-se de uma doença inflamatória que, segundo o Ministério da Saúde (MS), atinge uma em cada dez mulheres em idade fértil no Brasil. Às vezes, é fácil identificar que a paciente tem endometriose, no próprio exame clínico, quando ela relata os sintomas. Então, pedimos exames bioquímicos e de imagem para fechar o diagnóstico.
A paciente com endometriose precisa ser tratada individualmente, porque essa doença nunca é igual, de uma mulher para a outra. Por isso, cada uma precisa de um tratamento diferente, mas todas necessitam de mudança de estilo de vida.
A endometriose acontece quando a camada de tecido que reveste internamente o útero, o endométrio, ao se desprender (descamar), na menstruação, em vez de sair pela vagina, no formado de fluxo menstrual, por algum mecanismo não identificado completamente pela ciência, escapa para a cavidade abdominal. É a chamada menstruação retrógrada. Quando algumas dessas células do endométrio migram para a cavidade abdominal, elas atingem outros órgãos, como as trompas, ovários, intestino e bexiga, por exemplo, fixando-se nestes órgãos. As células do endométrio descamam a cada menstruação, então, estejam elas onde estiverem, elas sangrarão a cada menstruação. É por isso que mulheres com endometriose na bexiga ou no intestino podem apresentar sangue na urina ou nas fezes, na menstruação, por exemplo.
A endometriose também pode atingir outros órgãos. Quando ela se encontra no músculo do útero, o miométrio, é chamada de adenomiose, e pode causar sangramento menstrual intenso e cólicas. Se, em casos raros, as células forem enviadas pela corrente sanguínea para órgãos distantes, como coração, cérebro e pulmões, pode haver complicações ainda mais severas. No cérebro, ao sangrar, as células da endometriose podem causar um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.
A absoluta maioria dos casos de endometriose, porém, estão restritos à cavidade abdominal e devem ser diagnosticados o mais rápido possível, para que a mulher ganhe qualidade de vida.
O tratamento da endometriose
A endometriose pode ser diagnosticada em exame clínico, após uma boa conversa com a paciente. Depois, exames de imagem e de marcadores específicos são solicitados, para saber o tamanho do foco da doença. Em casos graves, apenas a videolaparoscopia consegue determinar a extensão da doença.
O tratamento é realizado de forma que a paciente evite, ao máximo, a cirurgia. Atualmente, existem drogas antiestrogênicas para combater o problema, que trazem excelente resultado para dor e lesão. Essa doença depende do hormônio estrógeno para se manifestar, então, os implantes hormonais bioidênticos antiestrogênicos são excelentes neste tratamento.
Paralelamente, é imprescindível que seja adotada uma dieta sem glúten e sem lactose por um período, para desinflamar o organismo. A prática de atividade física regular, a meditação e o tratamento psicológico, sempre que possível, completam o pacote, porque não adianta tratarmos o corpo, se a alma está doente”, explica a especialista. É isso mesmo: no tratamento da endometriose, não basta apenas tratar a doença clinicamente. Apenas o tratamento multidisciplinar surte efeitos na endometriose. Essa doença tem componente emocional envolvido e mulheres com tendência à depressão são naturalmente mais propensas a desenvolvê-la. Por isso, é necessário eliminar a inflamação crônica do organismo, por meio da redução do glúten e da lactose, adotar uma rotina fixa de atividades físicas e investir no apoio psicológico.
Nos casos graves, em que as cirurgias são necessárias, é preciso avaliar a extensão das lesões e envolver os profissionais capazes de eliminá-las. Pode ser necessário que gastroenterologistas, além dos ginecologistas, participem do procedimento. O tratamento multidisciplinar também se faz necessário nesta hora.
A endometriose também está ligada a problemas de fertilização porque a doença produz algumas citotoxinas endometriais que dificultam a implantação do embrião, devido a esse endométrio não ser normal. A infertilidade atinge cerca de 40% das brasileiras com essa doença. Portanto, é necessário que se trate a endometriose o quanto antes, quando a mulher quer engravidar.
A endometriose não é um câncer, mas se estuda a ligação da doença como precursora de casos de câncer de ovário. Estudos, ainda inconclusivos, apontaram que pacientes que desenvolvem câncer de ovário teriam sofrido de endometriose. Mas, ainda é cedo para poder afirmar a relação entre as doenças. A endometriose não é um tumor, mas, como sou mastologista e estudo o câncer, percebo que ela se assemelha ao câncer na invasão de órgãos, sem causar metástase. A endometriose é uma doença séria, que precisa de atenção e tratamento. Não se deve negligenciá-la.
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