A maior pesquisa sobre utilização de fotoproteção no Brasil revela que 71% da população não usa filtro solar diariamente e 55% não sabe a quantidade ideal a ser aplicada sobre a pele contra os nocivos raios UVA e UVB. Em todos os números, o levantamento de 2022 indica uma situação preocupante, que coloca em alerta a comunidade médica. Desde 2014, quando foi realizada a primeira pesquisa, os números já eram altos, mas hoje quase dois terços da população brasileira se expõem sem qualquer filtro à radiação ultravioleta.
Na pesquisa recente, 1.871 pessoas foram ouvidas em 27 estados brasileiros. Comparativamente, o estudo realizado em 2021 indicou que 62% da população não utilizava fotoprotetores em qualquer período do dia. A redução no uso do filtro solar mostra que campanhas de conscientização precisam ser mais eficientes para que o brasileiro assimile uma rotina de aplicar fotoprotetores.
Neste último levantamento, uma questão em especial revela hábitos da pandemia. Entre os entrevistados, 62% disseram que deixaram de usar os filtros solares durante o período da quarentena. Este é um dado com potencial para impactar o aumento no número de pessoas que não aplicam diariamente o protetor sobre a pele.
Um aspecto avaliado pelo coordenador do estudo é o preço do produto. Talvez pelo alto custo e pela situação de crise financeira que se instaurou no País, a proteção solar passou a segundo plano no consumo do brasileiro.
Outro dado significativo apontado na pesquisa revela uma dúvida dos brasileiros. O estudo mostra que, em 2022, 55% da população não tem a mínima ideia da quantidade de fotoprotetor a ser usada. E sem saber quanto aplicar, a pessoa pode achar que está protegida quando, na verdade, tem áreas descobertas na pele.
Bronzeamento
Por se localizar em uma região tropical, o Brasil detém um dos maiores índices de incidência de raios ultravioleta do Planeta. Paradoxalmente, a exposição solar é uma cultura no País, e nem sempre está associada a hábitos de saúde. Apesar do aumento do número de pessoas preocupadas em se protegerem dos raios UVA, ainda são 27% os brasileiros que consideram o bronzeamento uma prática saudável.
É preciso extremo cuidado com a radiação UVB, que causa as incômodas queimaduras solares. Mas a preocupação com fotoproteção não se restringe às praias e piscinas. Há também os raios UVA, que atravessam vidros e janelas e penetram profundamente na pele, chegando à derme, onde estão as fibras de colágeno e elastina. Os radicais livres gerados por esta radiação promovem a degradação destas fibras e causam fotoenvelhecimento, rugas, linhas de expressão, flacidez e manchas. Vale atentar ainda para os riscos de câncer de pele. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no triênio 2020-2022, a estimativa é de 177 mil novos casos de câncer de pele não melanoma no Brasil.
Outros dados da pesquisa
- FPS 30, 50 e 60 são os preferidos dos usuários.
- 57% dos que utilizam protetor solar não reaplicam o filtro ao longo do dia.
- 52%, mais da metade da população, não usam o produto em dias nublados.
- 46% se expõem ao sol apenas pela manhã por acreditar ser o horário mais seguro.
- 12% utilizam roupas como barreira de proteção solar.
- 10% apenas consultam o dermatologista para indicação do melhor filtro.
Muito além de diagnosticar hábitos do brasileiro sobre a exposição ao sol, a pesquisa demonstra a necessidade de medidas em larga escala para esclarecer a população sobre os malefícios da radiação ultravioleta. É urgente que se façam ações permanentes de conscientização sobre a necessidade diária dos fotoprotetores e a aplicação correta dos filtros solares como forma de prevenção e saúde.
*Lucas Portilho é farmacêutico, especialista em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diretor científico da Consulfarma e coordenador do Instituto de Cosmetologia Educacional.
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