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A saúde mental precisa ser constantemente trabalhada, e determinadas profissões lidam com diferentes tipos de demandas que reforçam ainda mais esta necessidade, como os profissionais da segurança pública, por estarem atuando frequentemente com ações que coloquem suas vidas em risco.
Pensando na necessidade deste grupo, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, junto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), anunciaram uma iniciativa voltada à prevenção das saúdes mentais destes profissionais. Esta novidade coincidiu com a notícia de que dois sargentos da Polícia Militar de Minas Gerais teriam tirado suas vidas no mesmo dia, dentro de seus respectivos batalhões.
A expectativa é de que mais de 65 mil sessões de psicoterapia sejam realizadas, de maneira completamente online, com especialistas selecionados pela UFMG, ofertadas para policiais civis e militares, bombeiros e técnico-científicos, tornando-se parte do Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissionais da Segurança Pública (Pró-vida).
Existem diversos fatores que podem levar estes profissionais a desenvolverem qualquer um dos problemas que atingem a saúde mental, os principais seriam as longas jornadas de trabalho, os riscos ligados ao exercício da profissão, que coloca a vida dos envolvidos em perigo, a pressão sofrida por estes agentes, a constante vigilância, ameaças, e até a possibilidade de causarem a morte de alguém, assim como, ver seus companheiros perdendo a vida ou sofrerem um acidente que os impede de continuar atuando.
Desta forma, se torna relativamente comum ver estas pessoas lidando com sintomas de estresse, ansiedade, depressão e síndrome de burnout, em diferentes níveis, a ponto de influenciarem a maneira com que trabalham e lidam com as pessoas ao seu redor.
Os efeitos do estresse e ansiedade são vistos através de sintomas como a tensão muscular, dores de cabeça, insônia, queda da autoestima, aumento ou perda de peso, aquisição de atos compulsórios e vícios, dores de barriga, cansaço excessivo, irritabilidade, angústia, tontura, úlceras e até problemas de hipertensão, que podem culminar em um infarto, acidente vascular cerebral, aneurisma, insuficiência renal e cardíaca.
A ansiedade não tratada tem potencial de levar à depressão, que assim como o burnout, pode se tornar incapacitante, impedindo que estas pessoas sequer tenham condições de trabalharem e percam ânimo de fazer tarefas que antes tinham prazer, além de lidarem com outras modificações psicológicas que influenciam em toda a sua qualidade de vida.
É muito comum ver comentários sobre como em determinadas ações policiais, os envolvidos parecem estar despreparados, e até mesmo, exibindo uma agressividade desnecessária e exagerada, e o motivo pode estar diretamente ligado ao estresse e a falta de cuidados com a saúde mental de cada um deles.
Apesar de trazer benefícios, o principal desafio desta iniciativa parece ser o preconceito enraizado no pensamento de muitos destes profissionais, de que falar sobre saúde mental seria algo sem qualquer necessidade, uma frescura. É por este motivo, que as sessões estão sendo oferecidas online, para que não precisem se dirigir a um consultório, garantindo maior privacidade.
Os casos de automutilação e suicídios têm se tornado cada vez maiores. Para se ter ideia, no Rio Grande de Sul, dados da Brigada Militar mostram que os policiais têm maior tendência de tirarem suas vidas do que perecerem em confrontos, já o Anuário Brasilerio de Segurança Pública de 2022, mostra que estes números no país cresceram 55% entre 2020 e 2021, reforçando a importância da resolução, que busca reverter este problema grave.
Sergipe, Rio Grande do Norte e o Distrito Federal também oferecerão consultas, e a expectativa é de que em breve, outros estados brasileiros também adotem a medida.
*** Ângela Mathylde Soares – Neurocientista, neuropsicóloga e psicanalista
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