Percebo que alguns jornalistas, políticos e profissionais de marketing político insistem em transferir o mesmo cenário eleitoral polarizado do contexto federal para o nível estadual. No Estado de São Paulo, por exemplo, os olhares estão mais direcionados para a disputa entre Tarcísio de Freitas, representando os eleitores mais à direita e, um candidato de esquerda, possivelmente, Marcio França ou Fernando Haddad.
Na minha opinião essa leitura está equivocada, afinal, a realidade dos estados, a formatação das campanhas eleitorais e os atores são totalmente diferentes. Ademais, notamos que em alguns estados existem players com grande potencial de votos sem ligação – partidária e/ou ideológica – com Bolsonaro ou Lula.
Outro ponto a se destacar é a correlação estatística (Pearson) existente entre os votos dos cargos disputados. Em estudo realizado pelo IBESPE, pudemos identificar a boa relação entre o voto do Deputado Federal e o voto para Presidente da República. Esse dado se repete, em menor grau, entre os votos para Deputado Estadual e Governador do Estado.
Além de todos esses aspectos apresentados, não podemos esquecer de um ator fundamental para a eleição de Governador do Estado: os Prefeitos Municipais.
Os Prefeitos têm capacidade política e financeira para convencer Vereadores, lideranças da sociedade civil, associações etc. a apoiarem um candidato ou projeto de governo e, enquanto as campanhas profissionais para o Governo do Estado transcorrem em salas de reuniões, gravações de programas eleitorais, entrevistas, visitas programadas etc. um mar de agentes políticos percorre as cidades conversando diretamente com as pessoas.
Em todas as pesquisas notamos que é crescente a indignação das pessoas pelo distanciamento dos políticos - muito presente nas redes sociais e muito ausente das ruas - o que alimenta ainda mais a necessidade de um exército de pessoas em campo. Por esse motivo, ter Prefeitos aliados é de suma importância para um candidato ao Governo do Estado.
Voltando às eleições do Estado de São Paulo e considerando a força dos Prefeitos em uma eleição ao Governo do Estado, a polarização entre Tarcísio e a Esquerda poderá sofrer algum abalo. Vamos aos números:
Dos 645 municípios do Estado de São Paulo, 151 (23,4%) são governados por prefeitos mais alinhados a Tarcísio de Freitas e dos 32,3 milhões de eleitores do Estado, essas cidades somam 5,9 milhões de eleitores (18,3%).
Quando falamos de governos mais alinhados à Esquerda – Márcio França ou Fernando Haddad - temos 48 municípios (7,4%) com 1,9 milhões de eleitores (5,9%).
Porém, quando tratamos de governos municipais mais alinhados a Rodrigo Garcia, representante do atual governo, temos 446 municípios (69,1%) e neles residem 24,3 milhões de eleitores (75,2%). Se por um lado esse candidato carrega a reprovação pessoal do atual Governador João Doria, traz consigo a capacidade financeira de transformar projetos municipais em realidade, o que certamente ajudará prefeitos para as eleições de 2024.
Devemos considerar que os eleitores têm independência em votar e os Prefeitos, com os olhos mirando 2024, sentirão a temperatura de sua cidade em relação aos candidatos e isso poderá mudar o seu apoio, ou seja, se um dos candidatos – Tarcísio ou Esquerda – quiser convencer um Prefeito aliado do atual governo a apoiá-lo, deverá estar muito forte nessa cidade.
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