Uma operação da Polícia Civil de São Paulo com a Guarda Municipal da capital paulista prendeu a “Gatinha da Cracolândia”, uma menina de 19 anos, loira, branca, identificada como uma das lideranças do tráfico de drogas na região. Ao ser presa, Lorraine Romeiro - este é o nome da “Gatinha da Cracolândia'' - levou as autoridades até o hotel onde escondia as drogas. No local, foram encontradas 85 porções de maconha, 295 de cocaína e oito de crack. Também foram localizados 97 frascos de lança-perfume, 16 comprimidos de ecstasy e R$ 750 em dinheiro. Os investigadores ainda revelaram que a movimentação mensal dela era de R$ 500 mil.
Muitos pontos chamam atenção nessa notícia. A primeira é a glamourização da menina. Prisões de supostos traficantes de drogas no país já deixaram de ser algo incomum e, portanto, já não são tão noticiáveis como eram há alguns anos. Dados dos governos estaduais e tribunais de justiça, por exemplo, concluem que um em cada três presos do país responde por tráfico de drogas. Lorraine, portanto, é apenas um terço dessa população, que já não traz muitos cliques aos jornais.
O rosto delicado e belo em meio ao caos da Cracolândia, por si, é algo a ser considerado pelos jornalistas, porém é muito raso para uma matéria de fôlego (nome que é dado às grandes reportagens). Justamente por isso, houve a necessidade de se criar uma aura de glamour em torno da menina, que nada mais é que uma vendedora de pedra “pé de chinelo” como qualquer outra pessoa que faz ponto na Cracolândia.
O segundo aspecto bastante curioso é a designação de Lorraine como uma das lideranças do tráfico de drogas na região.
A título de curiosidade, uma porção de cocaína contém cerca de 500 gramas da droga e uma porção de maconha conta com 50 gramas. Já os 97 frascos de lança-perfume equivalem a pouco mais de quatro litros. À vista disso, a “Gatinha da Cracolândia” foi presa com quatro quilos de maconha, menos de um quilo de cocaína, quatro litros de lança-perfume, oito pedras de crack e 16 comprimidos de ecstasy - quantidade bem inferior à que um playboy metido à traficante vende em qualquer rave de São Paulo.
Para mais, oito pedras de crack são vendidas em poucos minutos na Cracolândia, sobretudo quando se leva em consideração que um usuário fuma, em média, de 15 a 20 pedras por dia, conforme relatou o Centro Mineiro de Toxicomania. Sendo assim, um bom vendedor precisa atender sua demanda, o que a “líder do tráfico de drogas da região” parece não conseguir fazer.
Grandes traficantes, ademais, não sujam as próprias mãos vendendo seus produtos diretamente para o consumidor final, basta relembrar personagens conhecidos dos noticiários, como Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca; Carmine Spada; Pablo Escobar e até mesmo um ex-senador brasileiro, cujo helicóptero foi apreendido com 400 kg de cocaína.
Portanto, diante de todos esses fatos e informações, acreditar que a “Gatinha da Cracolândia” tem certa relevância no tráfico é, no mínimo, burrice.
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