“Deus não pode abençoar o pecado”. Essa foi a declaração do papa Francisco em nota oficial emitida pelo Vaticano que sepultou qualquer expectativa de casais homoafetivos serem vistos com bons olhos pela Igreja Católica. A declaração veio a público depois que foram remetidas à Santa Sé perguntas de inúmeras paróquias que expressaram o desejo de conceder bênçãos a casais de mesmo sexo como um sinal de boas-vindas aos gays católicos.
A visão retrógrada e ultrapassada da Igreja em relação à sexualidade de modo geral não é novidade para ninguém. No entanto, o que causou surpresa foi a contradição da nota com uma fala do próprio papa Francisco no documentário Francesco, na qual o pontífice se posicionou favoravelmente à união civil entre pessoas do mesmo sexo do ponto de vista legal. Acreditava-se, portanto, que a fala do papa no filme seria um primeiro passo para a mudança de pensamento da Igreja.
O Vaticano, no entanto, acrescentou que “a proibição da bênção não se restringe a uniões homoafetivas, mas a todo modelo de relacionamento ou exercício da sexualidade que não corresponda ao ideal católico, dentro do matrimônio”.
É curioso, entretanto, ver que muitos padres e religiosos que representam a instituição católica não têm a mesma preocupação em dar bênçãos para casais heterossexuais que vivem a sexualidade fora do casamento - muitos, diga-se, têm até filhos fora do matrimônio.
Também é motivo de estranheza o Vaticano, que se diz tão preocupado com o pecado, ter corroborado com o próprio pecado ao abafar casos de pedofilia em centenas de países por décadas, quando o próprio Cristo disse que “qualquer um que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim recebe. Mas qualquer um que fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse nas profundezas do mar”. (Mt,18-5,6)
O escândalo do Banco do Vaticano é outro episódio que mostra a falta de preocupação da Igreja com a prática do pecado. Por 40 anos, a instituição financeira católica operou sem autorização, lavou dinheiro e apresentou lucros exorbitantes. Somente em 2019, o banco registrou um crescimento de mais de 100%.
Embora não seja honesto citar práticas de tempos e culturas distantes, cabe lembrar a caça às bruxas surgida no no século XV e o refreamento do conhecimento por parte da Igreja Católica no intuito de propagar seus dogmas sem ser questionada. Logo, é inócuo e ingênuo acreditar que o Vaticano está preocupado com a prática pecaminosa. O que se vê hoje é a Igreja se mantendo em uma posição segregadora que sempre lhe foi conveniente.
Comentários: