"Tomei escondido, né? Porque a orientação [do Planalto] era 'não criar caso', mas vazou. Mas eu não tenho vergonha não. Eu tomei, vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. E, se a ciência e a medicina tá [sic] dizendo que é a vacina, né, Guedes? Quem sou eu para me contrapor", revelou o atual ministro da Casa Civil, General Luiz Eduardo Ramos, sobre ter se inoculado contra a covid-19. A afirmação foi feita durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar, no último 26 de abril.
Logo que o áudio foi vazado, na manhã do dia seguinte, Jair Bolsonaro, certamente, deve ter pensado na famigerada frase: “Até tu, Brutus”, dita por Júlio César ao ver que seu estimado amigo, Marcus Junius Brutus, estava entre os conspiradores que arquitetaram sua morte. Há desconfianças de que Brutus tenha sido filho de Júlio César, afinal, a mãe do carrasco foi amante do imperador por algum tempo, mas são apenas especulações.
Bolsonaro, decerto, deve ter se lembrado da frase do imperador romano por se achar também um monarca - ou, em uma denominação que melhor convém ao atual presidente brasileiro, um ditador.
Ao longo dos parcos dois anos em que esteve à frente do executivo nacional, Bolsonaro já disse estultices como: "Eu sou, realmente, a Constituição", "chegamos no limite, não tem mais conversa" e “Eu tenho poder para numa canetada fazer lockdown no Brasil todo".
O discurso autoritário do presidente é corroborado por sua prole, que recebeu inúmeros benefícios do chefe do Planalto. O deputado estadual, Eduardo Bolsonaro, por exemplo, já sugeriu um novo AI-5 (ato institucional que deu ao então presidente da época o direito de promover inúmeras ações arbitrárias e reforçou a censura e a tortura como práticas da ditadura) para conter o avanço da esquerda no Brasil, insinuou que seria banal fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) e, recentemente, comemorou a decisão do presidente salvadorenho, Nayib Bukele, de destituir o procurador-geral e os juízes da suprema corte de El Salvador para substituí-los por pessoas de confiança - vale lembrar que são essas pessoas de confiança que investigarão e julgarão eventuais crimes cometidos por Bukele.
O vereador carioca Carlos Bolsonaro, que já foi agraciado pelo pai com livre acesso a todos os setores do Planalto mesmo não tendo poder algum na esfera federal, e ainda, dizem as más línguas, foi contemplado com um bunker digital para espalhar boatos e desinformação nas redes sociais; vive pregando medidas autoritárias em seu Twitter.
Já o senador Flávio, o mais calado, é o mais azarado. Começou a aparecer na mídia não pelo seu discurso ditatorial, e sim pelo presente de grego que o pai lhe deu: Fabrício Queiroz como assessor. É de conhecimento geral que, de acordo com o Ministério Público, Queiroz foi o braço direito do senador na prática de lavagem de dinheiro conhecida como “rachadinha”. Queiroz está em prisão domiciliar e a Polícia Federal vive no encalço de Flávio Bolsonaro.
Diferentemente de qualquer imperador - ou ditador - que se preze, Jair Bolsonaro é estulto e incompetente, tendo sido traído por quase todos que o cercam. Isso posto, não seria de se estranhar que, daqui a algum tempo, um dos próprios filhos do presidente - Flávio, talvez? - vire as costas para o pai. Aí sim, Bolsonaro teria real motivo para dizer: “Até tu, Brutus?”.
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