- João, suas pesquisas não detectaram o que está acontecendo aqui embaixo?
Anos atrás, um político muito importante de Brasília me confidenciou que, em 20 de junho de 2013, a então Presidente Dilma Rousseff, ao ver manifestantes chegando de forma feroz no Palácio do Planalto, ligou para o consultor político João Santana cobrando explicações.
Não há como confirmar se realmente esse diálogo ocorreu ou se é apenas mais uma das lendas urbanas políticas brasileiras, porém, ele mostra algo que é normal e, infelizmente, cada vez mais rotineiro entre os políticos no Brasil.
Políticos são seres humanos comuns e por confiança, sempre se alimentam de informações do seu círculo mais íntimo que por muitas vezes evitam a dura realidade das críticas. Temos que entender que para os amigos e assessores é mais seguro, por motivos profissionais, financeiros ou afetivos, omitir alguma notícia negativa ao seu líder.
Em 2012, com a chegada das redes sociais, o círculo de “assessores” se multiplicou e, a terceirização do gerenciamento das plataformas, afastou ainda mais o político da opinião real dos eleitores.
A máxima de que “todo mundo está dizendo que” virou uma realidade! A disputa por hashtags e trending topics se tornou algo insano e não representam em nada a opinião dos eleitores em geral. Muito pelo contrário!
Em estudos nacionais realizados aqui pelo IBESPE demonstramos que 24% dos eleitores dizem não ter acesso regular a internet. Dos 76% que dizem possuir, 16% afirmam não ter redes sociais e 37% não veem o assunto política nas redes. Para piorar ainda mais, notamos que os seguidores de uma linha de pensamento ficam apenas em sua bolha, reduzindo ainda mais o alcance de uma mensagem política nas redes sociais. Outro ponto fundamental para essa análise, é entender quais são as redes sociais da sua cidade e estado que mais os eleitores fiéis e potenciais acessam para os assuntos políticos. E mais! Os eleitores querem cada vez mais por políticos com posicionamento! Ter atenção ao conteúdo e a forma de transmitir a sua mensagem é fundamental. Enfim, são tantas variantes que acabam para reduzir demais o alcance das mensagens!
A insanidade de delegar uma campanha e um mandato exclusivamente para as redes sociais é crescente! Chegamos ao absurdo de Senadores da República perguntarem a opinião de seguidores em uma votação em plenário! Esses políticos devem ser conscientes de que não há dificuldade de forças externas e contrárias a eles criarem grupos de pressão e desvirtuar a sua votação.
Sempre deixo muito claro de que as redes sociais são importantes e complementares, mas foram alçadas ao nível essencial pelos políticos de forma irresponsável.
Notamos através de estudos que a desconexão dos políticos com a temperatura das ruas é crescente!
A forma mais confiável de buscar informações e entender o real sentimento dos eleitores continua sendo através de pesquisas de opinião. Porém, pesquisas devem ser profundas, densas, com planejamento geográfico e com análises técnicas para embasarem as estratégias políticas, até mesmo da atuação do político nas redes sociais.
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