Reportagem da jornalista Amanda Pupo, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 18 de outubro, afirmou que a decisão do presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), de adiar a leitura do relatório final - até então marcada para 19 de outubro - se deu a pedido de Jair Bolsonaro. De acordo com a matéria, Bolsonaro "teria reclamado com Aziz da intenção de Renan [Calheiros, relator da CPI]" de indiciá-lo por homicídio qualificado. A matéria da jornalista ainda destaca que, para interlocutores de Bolsonaro, o "termo 'homicídio' é de fácil entendimento por parte da população e, se for adiante, Bolsonaro ficará marcado como assassino, o que seria muito difícil de ser revertido na opinião pública".
A situação do presidente da República ante a opinião pública não é das melhores, decerto. Conforme foi descoberto pela CPI da Covid, Bolsonaro criou um gabinete de saúde paralelo composto por médicos, políticos e empresários que davam a ele orientações disparatadas, sem nenhum respaldo científico. Incentivou a famigerada “imunidade de rebanho” - tese completamente descartada e rechaçada pela medicina - e até criou uma propaganda com o mote “O Brasil não pode parar” no início da pandemia, quando o país tinha apenas 77 mortos - digo apenas porque, comparado com o número atual, 77 parece muito pouco.
Bolsonaro ainda propagou a ideia de um tratamento precoce inexistente, lançando mão de cenas bizarras onde levantava uma caixinha de cloroquina para apoiadores em frente ao Planalto e mostrava o mesmo medicamento para uma ema. Não satisfeito, gastou quase R$ 90 milhões com a compra de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento de covid, como cloroquina, azitromicina e Tamiflu.
Em contrapartida, o chefe do Executivo demorou para pagar o Instituto Butantan, que entregou as primeiras doses de vacinas aplicadas no Brasil; ignorou 81 e-mails da Pfizer; vetou materiais de higiene, leitos hospitalares, respiradores e até mesmo água potável para os indígenas durante a pandemia; e, junto dos filhos 01, 02 e 03, articulou uma rede de fake news - com mais de 16 empresários, entre eles Luciano Hang, dono das lojas Havan - para insistir na ideia do tal tratamento precoce.
No Ministério da Saúde - vale lembrar que durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro havia dito que escolheria seu time de ministros por critérios técnicos -, a empresa responsável pela logística dos medicamentos supostamente aumentou seus lucros por meio do "jogo de planilha"; a vacina Covaxin quase foi comprada por valor 1.000% mais caro (o governo só voltou atrás depois que a informação vazou na mídia); e o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde foi acusado de pedir um dólar de propina para cada dose de vacina.
Por fim, uma abordagem apresentada pelo epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, indicou que 396 mil das 603 mil mortes poderiam ter sido evitadas se não fosse a má gestão do governo na pandemia.
Jair Bolsonaro, no entanto - o mesmo que em 2017 disse que sua especialidade era matar -, não quer ficar marcado agora como assassino. Contudo, suas mãos já estão manchadas de sangue e, para o resto da vida, será prisioneiro das consequências de suas escolhas criminosas.
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