O dia 26 de outubro de 2021 deveria entrar para a história como a data da leitura do relatório da CPI, que, entre outras conclusões, indiciou o presidente da República por crimes contra a humanidade. No entanto, o que mais chamou a atenção dos brasileiros foi o desfecho da morte de Huber Carlos Rodrigues, um pastor de Goiatuba, interior de Goiás. No dia, uma multidão se reuniu na porta da funerária onde estava o corpo do religioso esperando que ele ressuscitasse.
Sim, você não entendeu errado. Centenas de pessoas estavam acreditando, realmente, que o pastor voltaria à vida tal qual Jesus e Lázaro.
Essa confusão toda começou em 2008, quando Huber escreveu um testamento afirmando que ressuscitaria no terceiro dia. “Conforme me foi revelado pelo Espírito Santo de Deus, eu terei atendimento médico no qual será constatada a minha morte”, escreveu o pastor. “Minha integridade física tem que ser totalmente preservada, pois ficarei por três dias morto, sendo que no 3ª dia, eu ressuscitarei. Meu corpo durante os três dias não terá mau cheiro e nem se decomporá, pois o próprio Deus terá preparado minha carne e meu cérebro para passar por essa experiência”.
Huber, entretanto, morreu em 22 de outubro por complicações cardiorrespiratórias e, até o momento que escrevo este texto - 2 de novembro de 2021 -, não se tem notícia de sua ressurreição. O episódio, embora cômico, chama a atenção para um fenômeno muito comum e pouco discutido: os “falsos profetas”.
Esse tipo de golpista não é novidade e, muito menos, exclusividade do cristianismo. Entre 1650 e 1660, por exemplo, apareceu na cidade turca de Esmirna o rabino Sabbatai Zevi, que se proclamava o "Messias" esperado pelo povo judeu. Zevi se valeu da angústia pela qual passavam os judeus na época - o período foi de grande perseguição e massacre praticado pelos cossacos. No entanto, na primeira adversidade, Zevi se converteu ao islã, abandonando por completo o judaísmo e as pessoas que o seguiam.
Já na França do século XIX, apareceu o relojoeiro alemão Karl Wilhelm Naundorff reivindicando o trono e alegando ser Luís XVII, filho do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. Luís XVII, no entanto, havia sido morto aos 10 anos de idade, em 1795. Mesmo assim, várias pessoas compraram a história de Naundorff. Entre elas, Eugène Vintras, também conhecido como "o profeta de Tilly", que dizia receber visões de Jesus, Maria e do Arcanjo Miguel.
No Brasil, vira e mexe aparece alguém se proclamando profeta, quando não o próprio Cristo - Inri Cristo que o diga! Alguns até viram ministro de Estado, vide o caso de Damares Alves. Contudo, aos que tendem a acreditar nessas lorotas, é necessário muito cuidado, afinal, muitas dessas pessoas que se dizem escolhidas por Deus não passam de estelionatárias em busca de vítimas fáceis para seus golpes.
Outras, no entanto, como acredito que seja o caso de Huber Carlos Rodrigues, são apenas pessoas tão fanáticas com a religião a ponto de acreditar que são especiais aos olhos de Deus.
Essas pessoas, contudo, devem procurar não um púlpito ou um altar, e sim um bom psiquiatra.
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