"Respeitando a divergência, acho um absurdo o Brasil estar discutindo esse tema [voto impresso] quando a gente tem coisas mais relevantes, como a própria vacina, a fome, internet nas escolas, o desemprego", afirmou o presidente do PSD, Gilberto Kassab em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Do jeito que o mundo anda tão doido, sou obrigado a concordar com o político de carreira que é réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, caixa 2 eleitoral e associação criminosa. No momento que escrevo este texto, o Brasil conta com 563,7 mil mortos em decorrência da pandemia de Covid-19 e a preocupação do presidente da República é convocar os militares para desfilar com blindados na Praça dos Três Poderes justamente no dia da votação, em plenário, do voto impresso.
Já faz algum tempo que Bolsonaro encabeça uma campanha para desacreditar as urnas eletrônicas - que desde 1996 o elegeu. Os ataques se intensificaram durante a live do dia 29 de julho, quando o presidente apresentou uma profusão de mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro e ainda reproduziu o vídeo de um astrólogo que faz acupuntura em árvores para “provar” sua teoria de que as eleições de 2014 foram fraudadas.
Para contrapor os delírios de Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vem emitindo uma série de comunicados, notas e materiais explicativos informando que a Justiça Eleitoral utiliza o que há de mais moderno em segurança da informação para garantir a integridade, autenticidade e sigilo. Para mais, informa o TSE, “esses mecanismos foram postos à prova durante os Testes Públicos de Segurança realizados em 2009 e 2012, nos quais nenhuma tentativa de adulteração dos sistemas ou dos resultados da votação obteve êxito”.
Existe ainda a “Cerimônia de Votação Paralela”, que ocorre na véspera da eleição. “Em audiência pública, são sorteadas urnas para verificação. Essas urnas são conduzidas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e substituídas por outras, preparadas com o mesmo procedimento das originais. No dia das eleições, também em cerimônia pública, as urnas sorteadas são submetidas à votação nas mesmas condições em que ocorreria na seção eleitoral, mas com o registro, em paralelo, dos votos depositados na urna eletrônica. Cada voto é registrado numa cédula de papel e, em seguida, replicado na urna eletrônica, tudo isso registrado em vídeo. Ao final do dia, no mesmo horário em que se encerra a votação, é feita a apuração das cédulas de papel e comparado o resultado com o boletim de urna”, explica o TSE.
Além dos cuidados tomados pelo próprio tribunal, há diversos mecanismos de auditoria e verificação dos resultados que podem ser realizados por candidatos e coligações, pelo Ministério Público (MP), pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo próprio eleitor. Não existe, portanto, maneira de fraudar as eleições. E mais, um ataque hacker, conforme sugerem alguns bolsonaristas, é completamente impossível, afinal, as urnas não são conectadas à internet.
É triste, portanto, constatar que nesse momento delicado que vive o Brasil, no qual pessoas morrem diariamente por causa da negligência do presidente da República, a preocupação dele é criar uma cortina de fumaça para tentar impedir a derrota vexatória que já se ensaia para as próximas eleições. E, parafraseando Kassab, é “um absurdo o Brasil estar discutindo esse tema [voto impresso] quando a gente tem coisas mais relevantes”.
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