Há exatamente uma semana, usei este espaço para mostrar o quanto Jair Bolsonaro foi incoerente ao pedir para que a leitura do relatório da CPI da Covid fosse protelada. De acordo com uma reportagem do Estadão, o presidente demonstrou grande receio de ter seu nome associado ao termo homicídio. Não demorou, no entanto, a aparecer gente defendendo o “mito”. Entre os diversos comentários que recebi, o que mais me chamou a atenção foi o de uma senhora que me pedia para colocar “a mão na consciência” a fim de olhar “o que esse homem está fazendo de bom para a nação brasileira”.
Resolvi, então, escutar a recomendação dessa minha leitora e comecei uma longa e interminável pesquisa. Depois de passar sete dias mergulhado em jornais, revistas, canais de TV dedicados exclusivamente ao telejornalismo e sites de notícias, cheguei à conclusão de que não foram lá muitas coisas boas que Bolsonaro fez. Em contrapartida, não precisei de nenhuma pesquisa para me inteirar de que o chefe da nação associou a vacina contra a covid-19 à aids há poucos dias.
A fala ocorreu durante uma de suas famigeradas lives semanais - patrocinadas com dinheiro público, diga-se -, no último dia 21 de outubro. Baseando-se em uma teoria disparatada que circula nas redes sociais, Bolsonaro disse que relatórios oficiais do Reino Unido teriam sugerido que pessoas totalmente vacinadas contra a covid estariam desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, a Aids.
Obviamente, a repercussão foi uma das piores possíveis. O Comitê de HIV/aids da Sociedade Brasileira de Infectologia afirmou em nota que não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a covid-19 e o desenvolvimento de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, e ainda repudiou “toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”.
O próprio Facebook condenou a atitude de Bolsonaro e retirou do ar - tanto de sua plataforma homônima quanto do Instagram - a live em que o presidente recorre à desinformação. “O Facebook está apoiando o trabalho da comunidade global de saúde pública para manter as pessoas seguras e informadas durante esta crise. Nosso objetivo é garantir que todos tenham acesso a informações precisas, removendo conteúdo prejudicial e apoiando pesquisadores de saúde com dados e ferramentas”, informou a rede social.
Além de desrespeitar centenas de milhares de brasileiros que tiveram familiares mortos pelo novo coronavírus, Bolsonaro voltou a se dedicar a uma campanha de descredibilização da vacina, justamente quando mais da metade da população brasileira está inoculada. Felizmente, a maior parte dos brasileiros não está com o presidente - somente 5% dizem não querer se vacinar, de acordo com pesquisa Datafolha -, deixando claro, que, aos poucos, Bolsonaro está derretendo.
Para que alguns de meus leitores que defendem o "mito" não pensem que estou com "picuinha” contra Bolsonaro, continuei minha pesquisa em busca das políticas assertivas do presidente. No entanto, ao fechar este texto, deparei com a notícia: “Bolsonaro vai a competição de pássaros em extinção”.
Realmente, não tem como defender!
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